AS EXPERIÊNCIAS DAS MULHERES NA CARREIRA ACADÊMICA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NO ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE: UMA HISTÓRIA DE OPORTUNIDADES DESIGUAIS

Resumo

Este artigo examina as trajectorias na carreira académica de mulheres em Ciências Biológicas em três instituições académicas em Moçambique. Para tal foram realizadas entrevistadas semi-estuturadas, individualmente, com 27 mulheres com idades entre 29 e 60 anos. As entrevistas cobriam questões relativas a escolha do curso, ingresso para a carreira docente, permanência e progressão na carreira. Os resultados mostram a coexistência nessas instituições de duas gerações distintas de mulheres docentes: uma sénior e maioritariamente doutorada e outra junior com o grau de mestrado. Para ambos grupos tanto a carreira docente quanto a formação em ciências biológicas não constituam suas prioridades individuais. O ingresso das mulheres séniores para a carreira docente foi por imposição política enquanto que para as juniores surgiu em alternativa ao curso de medicina. A paixão pelo que fazem, as oportunidades de formação, a existência de uma rede de apoio familiar e de colegas, o trabalho flexivel, possibilidade de realizar consultorias e o sentimento de segurança foram factores críticos de permanência na carreira. Os resultados revelam a existencia de diferenças de progressão na carreira entre as mulheres sendo a obtenção do grau de doutoramento um factor critico. Finalmente, conclui-se que as mulheres juniores dificilmente conseguem obter um doutorado por factores socioculturais ligadas ao casamento e a vida doméstica. As diferenças de percurso e progressao na carreira entre as mulheres juniores e seniores reflectem oportunidades desiguais geradas pelos momentos históricos, económico, social e politico pelos quais Moçambique vem passando desde a independencia.