INFÂNCIAS, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E LITERATURA

DIÁLOGOS SINGULARES E PLURAIS A PARTIR DA OBRA “DA MINHA JANELA”, DE OTÁVIO JÚNIOR

Resumo

Tematizar as crianças, suas interações, construções, potências e vivências fazendo interlocução com a literatura abre espaço para a qualificação do debate sobre a representação das infâncias, em especial das infâncias negras em obras literárias endereçadas ao leitor infantil. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo refletir sobre as tensões relacionadas às infâncias, relações étnico-raciais e literatura, a partir da análise do livro “Da minha janela”, de Otávio Júnior, laureada com o prêmio Jabuti de melhor obra na categoria infantil, no ano de 2020. Na produção contemporânea, o livro literário ilustrado verte-se em diálogo estabelecido entre texto e leitor e amplia se através da presença de diferentes semioses, por meio das quais múltiplas vozes se fazem ouvir, potencializando seus sentidos. Metodologicamente, optou-se pela análise do discurso bakhtiniana, a fim de investigar a polifonia presente no texto que convida o(a) leitor(a) a olhar pela janela e ver a favela a partir dos olhos de uma criança negra e periférica, tomando a palavra e a imagem como elementos enunciativos na construção narrativa. Os resultados deste estudo reforçam a complexidade e a potencialidade dos livros ilustrados endereçados às infâncias e indicam que fazer ecoar vozes historicamente silenciadas é um modo de ressignificar o campo literário. Assim se fortalece a concepção de infância plural na qual as crianças são compreendidas em seus modos singulares de participar do mundo, por meio de processos constantes de (re)elaboração de sentidos e atribuição de significados sobre suas percepções, sentimentos e experiências, considerando suas origens étnico-raciais, de classe, entre outros aspectos.