Prefácio

Zuleika Köhler Gonzales

Resumo


Em primeiro lugar, quero muito agradecer o convite para dialogar com a revista Psicologia em Foco, neste momento em que mais uma edição chega aos leitores interessados no campo das ciências psi. É sempre memorável a dedicação e todo o trabalho dos profissionais acadêmicos em concretizar uma publicação científica. Sabemos a demanda de exigência no cuidado e no rigor dos escritos divulgados, fruto de muitos questionamentos, investigações, e reflexões na produção do conhecimento. É com este preâmbulo que eu me vinculo a este conjunto de trabalhos, doravante compartilhados e, legitimamente utilizados, pensados e até mesmo reformulados pelo leitor em questão. A minha inserção e discussão, neste momento, parte da questão ética no conhecimento. Como entendê-la? Trata-se de regulamentos para conduzir as pessoas? Trata-se de procedimentos disciplinares na avaliação das condutas acadêmicas de elaboração de trabalhos? Trata-se de estipular um 'dever ser' nos modos de se produzir conhecimento? Acredito que não. E por que trago esta discussão para o prefácio de uma revista acadêmica, que tão gentilmente me convidou para esta interlocução por intermédio de suas editoras? Porque sei a importância que a equipe responsável por esta publicação dá à reflexão e problematização das questões e temáticas que nos assolam na contemporaneidade. E justamente por isto, abordo neste espaço, a questão da ética, um campo que nos cabe sempre abordar e avalizar nos veículos que se colocam a este dispor. Entendemos, portanto, que ética vincula-se ao campo da reflexão, é um pensamento atuante sobre os processos que nos subjetivam cotidianamente, logo, é muito mais do que um tecnicismo que se constitui para solucionar e legitimar as normatizações afirmadas em muitos processos entrelaçados na ordem do conhecimento que produzimos academicamente.
A discussão ética que trago aqui refere-se aos modos em que os sujeitos são tomados como objeto em uma determinada relação de conhecimento e, portanto, de poder. Nos referimos às formas que determinamos, enquadramos, instituímos e, muitas vezes, até legislamos sobre as relações que constituímos na vida. Este dizer, este determinar, este legislar passa pelo âmbito do saber. Saber sobre algo, saber sobre alguém. Mas, porque trazer a discussão da ética na produção do conhecimento para o prefácio de uma revista acadêmica? Em primeiro lugar, porque é principalmente no espaço da formação profissional e daquilo que veiculamos como saber que podemos arregimentar um grande debate e uma grande reflexão sobre os modos de vida e as formas que nos relacionamos conosco mesmo e com os outros. Em segundo plano, por que esta questão nos convoca também, neste momento, a partir da entidade que regulamenta e orienta a nossa categoria profissional, o Conselho de Psicologia – CRPRS – ao nos depararmos com a enorme demanda de intervenções consideradas como intervenções nos aspectos éticos da atuação profissional que partem dos profissionais e da sociedade. Daí aproveitarmos todos os espaços para debater: mas, afinal, o que estamos querendo com essas demandas consideradas de aspecto ético? Queremos uma intervenção disciplinadora e legalista na nossa profissão e na sociedade? Queremos uma intervenção que controle e puna os que escapam aos ditames dos códigos que nós mesmos estabelecemos, ou seja, uma intervenção moral sobre os psicólogos que desconsideraram a reflexão ética em seu próprio fazer? Do que estamos mesmo falando? E vem uma importante questão ética e política: Afinal, o que estamos querendo com as nossas produções de conhecimento no âmbito das ciências psicológicas? Será que elas estão privilegiando um pensamento crítico, problematizador, abrangente sobre os modos que nos constituímos na sociedade? Será que buscamos analisar como se produzem os efeitos de nossas produções acadêmicas em nós mesmos e no mundo? É sobre esta relação de um conhecimento atuante, produto e efeito de nossa experiência na vida que estamos falando... Falamos aqui de uma relação pensada e constituída na liberdade, em múltiplas formas de pensar e experimentar a vida... Aí estamos adentrando na dimensão ética do conhecimento, e que consideramos ser a via escolhida pelas profissionais da Psicologia em Foco.
Peço às minhas colegas e aos leitores a compreensão sobre este chamado à dimensão ética do conhecimento; mas, se atentamos para uma produção bem articulada, bem elaborada nos seus mais diversos campos de atuação da psicologia como aquela que aqui se apresenta, por que também não abordarmos a própria produção do conhecimento em seu fazer científico e ético?


Um grande abraço,
Zuleika Köhler Gonzales


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